Avaliação da atividade anticâncer, antifúngica e estudo do mecanismo de ação de glicoalcaloides purificados de Solanum lycocarpum
Resumo
Estima-se que no ano de 2030, a incidência mundial de câncer será de 21,4 milhões de novos casos e 13,2 milhões de mortes por câncer. Clinicamente, uma das principais causas para o insucesso do tratamento do câncer é a inespecificidade e a resistência celular aos quimioterápicos utilizados na terapia atual. Outra doença de importância, são as infeções fungicas. Trichophyton rubrum (T.rubrum) é o agente responsável por mais de 69,5% de todas as infecções fungicas de tecidos queratinizados provocadas por dermatófitos. Atualmente ele tem se tornado um organismo que também provoca infecções profundas em pacientes imunodeprimidos. Nesse sentido, a bioprospecção de compostos de origem vegetal, que sejam mais seletivos a células tumorais e também a linhagens fungicas, tornou-se atraente para área farmacológica. Os frutos da planta do cerrado Solanum lycocarpum, popularmente conhecida como Lobeira, possuem glicoalcaloides, como a solamargina (SM) e solasonina (SS), que possuem alto potencial terapêutico, devido sua ação antitumoral e atividade antifúngica. Sabendo disso, a SM e SS foram isoladas e avaliadas quanto a atividade anticâncer e antifúngica, além do estudo do mecanismo de ação de tais atividades. O presente estudo mostrou que a SM apresentou maior potencial citotóxico contra as linhagens de câncer de mama MCF-7 e glioblastoma U-343, através dos ensaios de MTT e liberação de LDH. Ademais, os dois glicoalcaloides demonstraram maior genotoxicidade pelo ensaio do cometa para células tumorais U-343 e MCF-7 comparados com a linhagem normal 3T3. Foi demonstrado por citometria de fluxo que a SM na linhagem MCF-7 induziu a apoptose e provocou o arraste na fase G1 do ciclo celular. Os experimentos de PCR array demonstraram que a SM induziu a apoptose por via intrínseca na linhagem MCF-7. Em relação a atividade antifúngica, foi observado que a SM e α-solanina apresentaram pronunciada atividade contra as duas linhagens de T. rubrum, (CIM de 3,12 μg/mL). Já o glicoalcaloide SS apresentou valor de CIM de 12,5 µg/mL frente à linhagem H6 e CIM de 6,25 µg/mL para a linhagem mutante e a aglicona solasodina não apresentou atividade antifúngica. Esses resultados sugerem que os compostos SM e α-solanina não são transportados pela bomba de efluxo, diferente da SS. Ademais, esses alcaloides reduziram o nível de ergosterol no fungo T. rubrum, porém não afetaram o número e nem o tamanho de colônias regeneradas em meio com pH 6,8 e pH 9,0, dado que sugere que esses compostos não atuam na membrana plasmática. Dessa forma, podemos concluir que a SM apresentou pronunciada atividade anticâncer contra linhagem MCF-7, além de apresentar atividade antifúngica contra T.rubrum.